Os números estão estampados na reportagem de capa da revista Carta Capital desta semana. Uma década depois do atentado terrorista de 11 de setembro, o que aconteceu nos Estados Unidos? Eis alguns dados:
1) O preço das ações que fazem parte do índice Standard & Poors caiu 39%.
2) O desemprego dos americanos subiu de 3,9% para 9,1%.
3) O preço do petróleo triplicou.
4) A dívida americana saltou de 57,6% para 96,8% do PIB.
5) A participação dos Estados Unidos no PIB mundial caiu de 30,8% para 23,5%.
Em 11 de setembro de 2001, a economia americana estava exuberante. Bill Clinton, em seus dois mandatos, orgulhava-se de ter zerado o déficit americano. E o século XXI já era anunciado como mais um período de domínio absoluto do que os franceses chamavam de “hiperpuissance” – a hiperpotência. O Império parecia invulnerável.
Mas a história nunca é previsível. Depois da bonança da era Clinton, o poder passou das mãos dos democratas para os republicanos numa eleição fraudada – não fosse a contagem manipulada de votos na Florida, governada por Jeb Bush, George W. Bush teria perdido a disputa para Al Gore.
E logo no seu primeiro ano de mandato, a tragédia de 11 de setembro serviu de pretexto para que todos os demônios fossem liberados. Sob a influência do vice-presidente Dick Cheney e de radicais “neocons” como Paul Wolfowitz e Donald Rumsfeld, os Estados Unidos deflagraram a chamada Guerra ao Terror, passando por cima de resoluções internacionais. Wolfowitz era o ideólogo da teoria dos ataques preventivos, segundo a qual um inimigo poderia ser atacado, mesmo que não tivesse feito nada que justificasse a agressão.
Bush teve como maior aliado em sua cruzada o ex-premiê britânico Tony Blair. E ambos elegeram como primeira vítima o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein. Ainda em 2002, ruas de Londres e de várias capitais europeias eram tomadas por manifestantes que já enxergavam o motivo óbvio da invasão iraquiana. “No Blood for Oil”, diziam os cartazes. Ou seja, não se aceitava o escambo do sangue de inocentes pelo petróleo.
Apesar disso, Bush expôs o então secretário de Estado Colin Powell ao maior vexame de todos os tempos: o de tentar convencer a opinião pública mundial de que o Iraque possuía “armas de destruição em massa”. Mesmo sem qualquer evidência nessa direção, os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003. De lá para cá, já foram assassinadas 111 mil pessoas, de acordo com o site Iraq Body Count. Quase todos inocentes.
E o objetivo de se apoderar das riquezas americanas não foi alcançado, porque foi impossível estabilizar o Iraque. A guerra ao terror, na verdade, gerou mais núcleos de terror em vários cantos do Oriente Médio. (Abre-se aqui um parêntese: em 2007, entrevistei Phil Gramm, consultor econômico do candidato republicano John McCain, que foi derrotado por Barack Obama, um ano depois. Ele me dizia que o preço do barril do petróleo cairia a US$ 50. Perguntei o motivo. E ele me respondeu: “Porque já invadimos o Iraque”. John McCain perdeu e o petróleo foi a US$ 150).
Falência econômica e moral
De acordo com os cálculos do economista Joseph Stiglitz, a invasão do Iraque custou U$S 4 trilhões aos Estados Unidos. Não apenas em função das despesas com a máquina de guerra, mas também com o aumento dos gastos na importação do petróleo.
Resultado: as decisões tomadas pelos falcões “neocons” da Casa Branca estão na gênese da atual crise econômica, que arrastou bancos poderosos, como o Citi, e há poucos meses, colocava no ar uma dúvida aterradora: os Estados Unidos decretariam ou não a moratória de sua dívida? Faltou pouco para que a nação mais rica do mundo desse o calote no resto do mundo – incluindo o Brasil, que é um dos maiores detentores de títulos do Tesouro norte-americano.
Não bastasse a falência econômica, as respostas equivocadas dos Estados Unidos ao atentado terrorista provocaram a decadência moral do país. Na era Bush, os Estados Unidos, antes admirados em boa parte do mundo, passaram a despertar ódio e desprezo. E contribuíram para essa decadência cenas degradantes como as das torturas na prisão de Abu Graib, no Iraque, e em Guantánamo, em Cuba.
Obama capturado e morto
Em maio deste ano, o terrorista Osama Bin Laden foi capturado e morto pelos “Seals”, que formam a tropa de elite do Exército americano. Neste momento, que marca a passagem de dez anos do atentado terrorista, ele poderia estar sendo julgado numa corte internacional e expondo suas razões, se não tivesse sido alvejado e atirado ao mar.
Fotos do terrorista jamais foram divulgadas. Osama foi capturado no Paquistão, bem ao lado das instalações militares de um país aliado dos Estados Unidos, tornando ainda mais evidentes os erros cometidos pela Casa Branca nas guerras do Iraque e do Afeganistão.
Osama bin Laden perdeu.
Mas, de certa forma, seus objetivos foram alcançados. E AGORA O QUE ANDA FAZENDO BIN LADEN.
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