terça-feira, 2 de setembro de 2014

MARINA DISPAROU E PODERÁ AGORA NINGUEM SEGURA

A alta rejeição aos partidos favorece a “nova política” de Marina?

A “chegada” de Marina – ou na verdade seu retorno, pois ela foi candidata em 2010 com 20 milhões de votos – acontece em um momento de “pico” da rejeição aos partidos políticos no Brasil. Em agosto de 2010, 48% dos eleitores não tinham preferência partidária; agora são 54%, segundo o Ibope. Esta é a taxa mais alta de rejeição a partidos políticos já registrada no passado recente, segundo pesquisadores.
Este fator ajuda a candidatura Marina?
 A candidata, no ano passado, como se sabe, tentou criar um partido que não leva a palavra “partido” no nome: a Rede Sustentabilidade. Ela está no PSB por circunstâncias da vida – o partido, ou na verdade Eduardo Campos, a abrigou em 2013, no primeiro lance significativo da atual campanha eleitoral. Em seus discursos, ela se diz portadora de uma “nova política”, que de alguma forma, parece não dizer respeito a partidos mas a alguma outra coisa, ou melhor, à “sociedade”.
 “Agora somos nós e a sociedade”, disse em um discurso alguns dias depois da morte de Campos.
 No debate de ontem do SBT, o momento mais enfático no qual pode expressar a ideia da “nova política” foi a uma resposta do jornalista Fernando Rodrigues, quando este lhe perguntou sobre a confidencialidade de ganhos (imposta pelos contratantes, disse a candidata) obtidos por ela em palestras para empresas nos últimos anos e a aparente contradição entre isto e a “nova política”. Marina disse que viver “honestamente” de seu trabalho e a “renovação da política” não ensejam contradições. Definiu desse modo e às avessas a “nova política” como algo pertencente ao reino do pessoal – e que de fato não parece dizer respeito aos partidos políticos.
 A “nova política” parece dialogar mais com a ética e a moral individuais. É o indivíduo – no caso o político — fazendo as escolhas certas diante dos dilemas do mundo. De certa forma solitariamente e possivelmente perante Deus, pois alguém há de olhar.
 Em outra citação do debate de ontem, o candidato do PV, Eduardo Jorge, respondendo sobre a posição do partido favorável à descriminalização do aborto e do uso de drogas, foi perguntado porque o PV não defendeu esta posição em 2010, quando a candidata do PV à presidência foi Marina. Respondeu Eduardo Jorge: naquele momento isto não foi possível pois havia uma aliança entre o PV e UMA PESSOA, quase uma entidade nas suas palavras, no caso, Marina. Esta confirmou a resposta de Jorge, lembrando que em 2010 submeteu a questão a uma “cláusula de consciência” dela própria, ela que viria a amealhar 20 milhões de votos, na chamada “onda verde”.
 De novo, mais uma pista que leva a “nova política” para o âmbito do pessoal. Cabe ao indivíduo ser o responsável por seu caminho na Terra. O coletivo (a política, no caso) é sobretudo o resultado da soma das iniciativas individuais. Por ser uma noção plástica, a “nova política” pode traduzir, também, a utopia das novas gerações, segundo a qual as soluções para o mundo estejam nas redes sociais ou ao alcance de um clique na internet. Sem intermediações. Sem política. Sem hipocrisia. “Nós” e a sociedade.
 No plano governamental, estamos para ver o que isto poderá significar. Seja como for, estes são fatores – entre vários outros – que marcam as eleições 2014, e que compõe, de alguma forma, o forte desejo por mudanças expresso pelo eleitorado em inúmeras pesquisas.