A alta rejeição aos partidos favorece a “nova política” de Marina?
A “chegada” de Marina – ou na verdade seu retorno, pois ela foi
candidata em 2010 com 20 milhões de votos – acontece em um momento de
“pico” da rejeição aos partidos políticos no Brasil. Em agosto de 2010,
48% dos eleitores não tinham preferência partidária; agora são 54%,
segundo o Ibope. Esta é a taxa mais alta de rejeição a partidos
políticos já registrada no passado recente, segundo pesquisadores.
Este fator ajuda a candidatura Marina?
A
candidata, no ano passado, como se sabe, tentou criar um partido que
não leva a palavra “partido” no nome: a Rede Sustentabilidade. Ela está
no PSB por circunstâncias da vida – o partido, ou na verdade Eduardo
Campos, a abrigou em 2013, no primeiro lance significativo da atual
campanha eleitoral. Em seus discursos, ela se diz portadora de uma “nova
política”, que de alguma forma, parece não dizer respeito a partidos
mas a alguma outra coisa, ou melhor, à “sociedade”.
“Agora somos nós e a sociedade”, disse em um discurso alguns dias depois da morte de Campos.
No
debate de ontem do SBT, o momento mais enfático no qual pode expressar a
ideia da “nova política” foi a uma resposta do jornalista Fernando
Rodrigues, quando este lhe perguntou sobre a confidencialidade de ganhos
(imposta pelos contratantes, disse a candidata) obtidos por ela em
palestras para empresas nos últimos anos e a aparente contradição entre
isto e a “nova política”. Marina disse que viver “honestamente” de seu
trabalho e a “renovação da política” não ensejam contradições. Definiu
desse modo e às avessas a “nova política” como algo pertencente ao reino
do pessoal – e que de fato não parece dizer respeito aos partidos
políticos.
A “nova política” parece dialogar mais com a ética e a
moral individuais. É o indivíduo – no caso o político — fazendo as
escolhas certas diante dos dilemas do mundo. De certa forma
solitariamente e possivelmente perante Deus, pois alguém há de olhar.
Em
outra citação do debate de ontem, o candidato do PV, Eduardo Jorge,
respondendo sobre a posição do partido favorável à descriminalização do
aborto e do uso de drogas, foi perguntado porque o PV não defendeu esta
posição em 2010, quando a candidata do PV à presidência foi Marina.
Respondeu Eduardo Jorge: naquele momento isto não foi possível pois
havia uma aliança entre o PV e UMA PESSOA, quase uma entidade nas suas
palavras, no caso, Marina. Esta confirmou a resposta de Jorge, lembrando
que em 2010 submeteu a questão a uma “cláusula de consciência” dela
própria, ela que viria a amealhar 20 milhões de votos, na chamada “onda
verde”.
De novo, mais uma pista que leva a “nova política” para o
âmbito do pessoal. Cabe ao indivíduo ser o responsável por seu caminho
na Terra. O coletivo (a política, no caso) é sobretudo o resultado da
soma das iniciativas individuais. Por ser uma noção plástica, a “nova
política” pode traduzir, também, a utopia das novas gerações, segundo a
qual as soluções para o mundo estejam nas redes sociais ou ao alcance de
um clique na internet. Sem intermediações. Sem política. Sem
hipocrisia. “Nós” e a sociedade.
No plano governamental, estamos
para ver o que isto poderá significar. Seja como for, estes são fatores
– entre vários outros – que marcam as eleições 2014, e que compõe, de
alguma forma, o forte desejo por mudanças expresso pelo eleitorado em
inúmeras pesquisas.