Porrete 'Direitos Humanos' é achado em centro socioeducativo na Paraíba
Cassetetes eram usados para punir jovens internos, diz relatório do MPF.
Órgão responsável por unidade vai se pronunciar após analisar documento.
Dois porretes com as inscrições “Direitos Humanos” e “ECA” (Estatuto da
Criança e do Adolescente) foram encontrados por uma comissão do
Conselho dos Direitos Humanos da Paraíba (CEDH) durante uma inspeção no
Centro Educacional do Jovem (CEJ), em João Pessoa.
O relatório com o resultado da inspeção foi divulgado no início da
tarde desta sexta-feira (19) pelo Ministério Público Federal (MPF).
Segundo o padre Xavier Paolillo, membro da conselho, os cassetetes eram
usados para punir os internos, jovens que completaram 18 anos durante o
cumprimento da medida de internação.
A presidente da Fundação de Desenvolvimento da Criança e do Adolescente
(Fundac), órgão responsável pelos centros socioeducativos da Paraíba,
Sandra Marrocos, informou ao G1 que, até as 13h30,
ainda não havia tido acesso ao relatório e que só se pronunciaria sobre
as denúncias após analisar o documento divulgado pelo MPF. Segundo o
padre Xavier Paolillo, o relatório completo, com o detalhamento dos
problemas encontrados, foi entregue à Fundac nesta sexta.
Relatório conta com denúncias de maus-tratos
Desde 22 de maio deste ano, o CEJ é ocupado por jovens do sexo
masculino, autores de ato infracional, que tenham completado 18 anos
durante o cumprimento da medida de internação. Anteriormente, o prédio
do CEJ, construído na década de 1970, era utilizado para o atendimento
de adolescentes em cumprimento de medida de internação provisória.
O relatório divulgado nesta sexta-feira é referente a inspeções
realizadas pela comissão entre os dias 23 de abril e 15 de junho.
Segundo o documento, nas visitas feitas pelo CEDH, além dos porretes,
foram encontradas várias irregularidades como superlotação, equipe
insuficiente para cuidar dos internos e problemas de infraestrutura, que
não segue as diretrizes do Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase).
“A Unidade se parece com um presídio. Os alojamentos são celas, com
pouca ventilação e luminosidade. Algumas delas se parecem com ‘grutas’,
conforme definição dada pelos próprios jovens. As paredes estão cheias
de mofo e de pichações. Durante as inspeções havia restos de comidas
para todo e qualquer canto. O único critério seguido para a separação
dos jovens parece ser o das ‘facções'”, diz o relatório.
Agentes
usavam cassetete com sigla do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA)
para agredir internos, diz CEDH-PB (Foto: Divulgação/MPF-PB)
No relatório, os conselheiros citam ter verificado que os jovens
permanecem “trancafiados” na unidade, exceto um grupo que trabalha como
pedreiros “sem qualquer equipamento de proteção”. “Todos os jovens
perguntados disseram que a única atividade era a escolarização, que dura
no máximo duas horas por dia. O resto do tempo é passado em absoluta
ociosidade”, completa o documento, que também indica que alguns jovens
disseram não estar estudando.
Em três fiscalizações feitas no Centro Socioeducativo Edson Mota (CSE),
no início de abril de 2015, a comissão encontrou uma série de
irregularidades. Foram denunciadas superlotação, mau acondicionamento
dos alimentos e até agressões por parte de agentes de ressocialização
contra os adolescentes internos.
O CEDH-PB, do qual o Ministério Público Federal é órgão integrante,
constatou que a unidade estava com 185 adolescentes internos, quando a
capacidade do local é de 70 adolescentes. Durante a inspeção, os
conselheiros ouviram dos internos que agentes costumam agredi-los
fisicamente com tapas, socos e chutes.
Na época em que o relatório de irregularidades do CSE foi divulgado, a
assessoria de imprensa da Fundac informou que o relatório é antigo,
portanto o que foi denunciado é falso. Ainda de acordo com a Fundac, os
problemas expostos, como maus-tratos e falta de água, não existem.
Adolescentes de diversas alas denunciaram que “existe um ritual de
entrada, chamado de ‘batismo’, que vai de tapas a verdadeiras sessões de
torturas”. Outros relatos dão conta de que, sobretudo no período
noturno, os agentes socioeducativos fariam uso de gás de pimenta, bastão
retrátil e equipamento de choque elétrico.
Verificou-se ainda que os agentes socioeducativos não são servidores da
Fundac, mas terceirizados de uma empresa de segurança contratada. Todos
os internos se queixaram da qualidade da alimentação. A própria direção
disse que às vezes tem que devolvê-la, pois frequentemente chega
estragada.
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