O capitão
paraquedista de reserva B, em campanha presidencial, enchia a boca para
dizer que não entendia bulhufas de economia. Confiava esse assunto
cegamente ao seu futuro ministro PG. Fingia-se de morto, como se diz no
jargão militar, ou seja, simulava ignorância para enganar o inimigo,
pois desde aquela época acalentava um sonho que continha a solução final
para a crise que assola os brasileiros. As reformas previdenciária,
tributária e outras árias, ele bem sabe, são paliativos para deixar o mercado
contente, não para fazer crescer a economia. E a popularidade de seu
governo está diretamente atrelada ao sucesso, ou ao fracasso do combate à
recessão. Assim que foi empossado começou a executar a sua estratégia,
sem fazer alarde, enquanto as reformas ocupavam as manchetes. Mal
anunciou que iria acabar com a “indústria das multas”, o seu super
ministro veio reclamar. Estava se matando para aumentar a arrecadação do
governo. Acabar com as multas nesse momento de pindaíba não ajudava
muito. Os olhos de B brilharam com aquele brilho típico de quem vai
tirar um Ás da manga, um Ás advindo do universo da sabedoria e
inteligência que lhe rendeu a alcunha de Mito.
— Muito antes pelo contrário — respondeu o presidente. — Não só ajuda, como resolve.
PG, surpreso, arregalou os olhos, como quem pergunta: como é?
— Qual é a
ligação entre legalizar todos os agrotóxicos, eliminar os radares nas
estradas, acabar com as multas, liberar a polícia pra atirar em quem
achar suspeito, queimar a floresta e flexibilizar o porte de armas? —
charadeou o mandatário.
PG olhou para ele sem saber o que dizer. B, triunfante indicou:
— Segue o meu raciocínio.
É mais fácil cobrir o rombo da previdência, pensou PG, mas nada disse, apenas tirou os óculos e limpou as lentes.
— Um dos
grandes problemas da crise econômica no Brasil é o desemprego, tô certo?
Teus colegas especialistas tentaram criar mais vagas com a reforma
trabalhista, com a terceirização e nada disso resolveu isso daí. Tô
certo? Então, tem que pensar um pouco fora da casinha.
Fora da caixinha, corrigiu o ministro, mas apenas em pensamento. Não era louco de interromper o golden shower de ideias do seu chefe.
— Se as
pessoas comerem veneno, vão morrer; se correrem na estrada vão se matar e
matar os que não correm; com o fim da floresta vão padecer, e pra
acelerar isso daí, nada melhor que liberar arma de fogo pra todo mundo.
Com toda essa gente morrendo vai sobrar vaga e o desemprego já era.
PG virou-se
discretamente para um assessor imaginário, e pediu (em pensamento) que o
beliscasse, só poderia estar tendo um pesadelo. Concluiu que o
presidente estava certo: fora da casinha era, enfim, o termo mais correto. B interpretou seu embasbacamento como admiração e seguiu, orgulhoso.
— E quem não
morrer vai ficar ferido, doente, vai ser hospitalizado. Isso vai
esquentar a economia na saúde, nos seguros, nos caixões, tá me
entendendo? Pensa só o quanto eu movimento a economia cada vez que eu me
interno. Imagina isso multiplicado por milhões! E não só vai acabar com
o desemprego como vai, finalmente, eliminar a pobreza. Pobre não pode
comprar arma, tô certo? Vai dançar. Não pode comprar alimento orgânico,
tô certo? Vai bailar. E pra completar o serviço, a polícia vai entrar
nos morros e atirar em quem resolveu, apesar de tudo isso daí, não
morrer. Liquida a pobreza e a economia informal, que não paga imposto,
na mesma tacada.
O plano
econômico de B não para por aí, é bem mais ambicioso. Uma guerra mataria
em escala muito maior do que todas essas medidas juntas. Este é seu
grande sonho, desde que foi expulso das forças armadas: comandar o
Brasil numa guerra. Teve uma oportunidade de ouro, tão logo assumiu o
governo, de atacar a Venezuela cujo regime estava caindo de Maduro. Mas o
exército, logo o exército, jogou água fria no seu entusiasmo. Agora ele
está tentando cavar uma nova chance. Comprou briga com a chanceler
alemã que o criticou, mandou a primeira ministra da Noruega enfiar o
dinheiro do fundo bem lá no fundo, agrediu do nada a ex-presidente
chilena. Quando levou pau do chefe do governo francês ficou atordoado,
pois sua beligerância é hétero. Logo um seguidor no twitter lhe deu a
deixa para o contragolpe: atingir o Maucron chamando a primeira dama de
feia. Foi um movimento altamente sofisticado no intricado tabuleiro das
relações internacionais.
— A maior
lição que a história nos ensina — esclarece ele ao seu super ministro — é
que a guerra é o melhor remédio para uma crise econômica. Não foi assim
que os Estados Unidos saíram da grande depressão em 1939?
Depende –
corrige (só em pensamento) o apavorado ministro,– primeiro tem que
vencer a guerra. Os generais da Argentina de 1982 que o digam. Foram
bulir justamente com a Iron Lady e levaram ferro.
Logrará o
presidente tirar o Brasil da recessão? Usará a foto que tirou no
hospital junto ao filho a(r)mado como símbolo da campanha de seu plano
ambicioso? E a pergunta que está caindo de madura: desvendará a PF quem
mandou matar Marielle? Não perca no próximo episódio de Casa do Baralho.