Falência intelectual
O funk ostentação -- e certo tipo de funk em geral -- é tão ruim e
destituído de qualidade artística quanto o sertanejo universitário e os
cantores solo do tipo Luan Santana, Michel Teló e tutti quanti. Imaginar
que esse tipo de estilo ou música possa vir a ser reconhecido daqui a
quarenta ou cinquenta anos, como o foi o samba ou como se deu com o
blues e o jazz nos Estados Unidos, é desconhecer o fato de que aquelas
músicas e estilos são ruins e pronto.
O samba e o blues são resultado de transformações socioeconômicas e
culturais num lugar específico e num dado tempo que possibilitaram a
sua emergência e consolidação como estilo. São frutos de grandes
transformações sociais e de época, num sentido positivo.
O funk ostentação e o sertanejo universitário também são frutos de
mudança de época, mas num sentido negativo. São a marca expressa da
falência cultural ocidental, seja no que estes estilos são em si mesmos
ou, como se verifica no rock, que segue ladeira abaixo há décadas. É a
falência da cultura ocidental em seu sentido mais profundo, clássico, de
suas matrizes fundadoras que arrasta consigo as expressões culturais em
todos os sentidos, sendo a música apenas uma delas.
A música ruim é a expressão de um lugar, de um tempo, de um tipo de
vida e de uma cultura que segue se deteriorando. Não são apenas as
escolas e a educação que afundou, mas certamente, a vida que brota a
partir e, junto com ela. Se a classe média juvenil produziu a bossa nova
e a MPB, a partir dos anos 1950 e 1960, e os clássicos hoje amplamente
conhecidos, isso se deve ao solo fecundo de uma classe média que se
desenvolvia num momento em que o próprio país também se projetava. A
classe média, hoje, nada mais canta de novo e nem inventa nada. Pudera,
ela vem se deteriorando com a deterioração da própria cultura onde está
imersa.
De cerca de seis milhões de participantes, 250 conseguiram nota máxima na redação do Enem 2014. Não é possível que este placar não nos mostre de uma vez por todas que estamos falidos. Intelectualmente falidos. O fechamento, por falta de verba, do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, é prova irrefutável da nossa falência.
Enquanto insistirmos num sistema padronizador, em
vez de um sistema diversificador, teremos deste placar para baixo.
Enquanto a educação brasileira for pensada como um “X” que se marca no
vestibular, continuaremos formando jovens sem grandes capacidades de
desenvolvimento de ideias através da escrita e, muito provavelmente,
através da oralidade. É na escrita, no ato de escrever e de ler, que
pensamos sobre nossas ideias, nas causas e consequências dos pensamentos
que, unidos, formarão uma opinião, da opinião um conhecimento e do
conhecimento um cidadão profissional, pai de família, pensador do seu
tempo e ciente do seu papel social.
Nosso sistema é um grande trator de ideias e talentos. É defasado e isso sobressai quando a Secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro orgulhosamente distribui um cartaz que mostra uma fila de carteiras escolares, em uma esteira de fábrica com o slogan: “Nossa linha de produção é simples: construímos escolas, formamos cidadãos e criamos futuros".
Não é simples dar educação de verdade. A educação não é linear, não pode ser de cima para baixo. Ela começa com a liberdade de seus pensadores, pela segurança de estabilidade profissional e valorização dos salários e benefícios, com instrumentos, caminhos e passagens livres para que estes condutores do futuro, pedagogos e professores, possam experimentar e criar uma educação de fato a quem mais interessa e se destina: o jovem.
É preciso que as escolas sejam pontos de cultura, de ideias, de aprendizados diferentes. Federalização e ensino integral somente não resolverão nada. A escola precisa ser um potencializador de divergências, de criações, de expressões. Há algo muito errado quando uma escola se preocupa mais com a calça rasgada ou com a falta de uniforme (que palavra tosca!!!) do que com as ideias e experiências que o aluno traz na mente.
A escola não pode ser um caixote odiado pelos alunos, para onde se vai para competir quem tirou a maior nota em Matemática ou quem ficou em menos ou mais recuperações. Quantos “xis” foram mais assertivos?
A escola deve ensinar ao aluno o amor ao conhecimento, ao seu próprio talento, à sua humanidade transformadora, ao seu espaço individual, que sempre se confunde com o do outro. A sua capacidade de pensamento. O aluno deve ter clareza de que é capaz de formular ideias e que ideias, em conjunto, formam uma convivência e a convivência, uma sociedade.
O Enem e os resultados das redações são o xeque-mate da falta de capital intelectual nos centros de ensino brasileiros. É o grito de quem sabe qual sua carência, mas não consegue pautá-la racionalmente.
Nosso sistema é um grande trator de ideias e talentos. É defasado e isso sobressai quando a Secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro orgulhosamente distribui um cartaz que mostra uma fila de carteiras escolares, em uma esteira de fábrica com o slogan: “Nossa linha de produção é simples: construímos escolas, formamos cidadãos e criamos futuros".
Não é simples dar educação de verdade. A educação não é linear, não pode ser de cima para baixo. Ela começa com a liberdade de seus pensadores, pela segurança de estabilidade profissional e valorização dos salários e benefícios, com instrumentos, caminhos e passagens livres para que estes condutores do futuro, pedagogos e professores, possam experimentar e criar uma educação de fato a quem mais interessa e se destina: o jovem.
É preciso que as escolas sejam pontos de cultura, de ideias, de aprendizados diferentes. Federalização e ensino integral somente não resolverão nada. A escola precisa ser um potencializador de divergências, de criações, de expressões. Há algo muito errado quando uma escola se preocupa mais com a calça rasgada ou com a falta de uniforme (que palavra tosca!!!) do que com as ideias e experiências que o aluno traz na mente.
A escola não pode ser um caixote odiado pelos alunos, para onde se vai para competir quem tirou a maior nota em Matemática ou quem ficou em menos ou mais recuperações. Quantos “xis” foram mais assertivos?
A escola deve ensinar ao aluno o amor ao conhecimento, ao seu próprio talento, à sua humanidade transformadora, ao seu espaço individual, que sempre se confunde com o do outro. A sua capacidade de pensamento. O aluno deve ter clareza de que é capaz de formular ideias e que ideias, em conjunto, formam uma convivência e a convivência, uma sociedade.
O Enem e os resultados das redações são o xeque-mate da falta de capital intelectual nos centros de ensino brasileiros. É o grito de quem sabe qual sua carência, mas não consegue pautá-la racionalmente.
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