sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

PADRE COMPARA POBRES COM CACHORRO.

Para Classe Média apartamentos e bangalôs, para pobres, casinhas de cachorro
Por: Edilberto Sena
Como explicar os financiamentos da Caixa Econômica Federal para projetos de moradia em Santarém? O dinheiro é público, a intenção do governo federal é financiar moradias para milhões de sem teto do país. Vários prédios e bangalôs vão surgindo e logo habitados, por quem pode fazer empréstimos pagáveis em tempo estabelecido. Conjuntos habitacionais para classe média também vão surgindo e ocupados por quem pode pagar as prestações.
Por outro lado, a mesma Caixa financia  aquele triste cartão postal, ao lado da rodovia que liga a cidade ao aeroporto, o tal Minha Casa minha Miséria. Um absurdo de humilhação aos pobres sem teto, uma vergonha para a cidade de Santarém. 2.500  casinhas de cachorro para famílias pobres, com medidas de 6 metros por sete metros para sala, quarto, cozinha, lavanderia, para famílias de 4, 5, e até sete pessoas, como? Não há área para jardim, nem quintal, com três metros de separação das outras, de frente, de trás e dos lados. Que equipe de engenharia construiu aquilo? Para cúmulo de ironia e humilhação aos pobres, cada casinha de cachorro tem um acumulador de energia solar, mesmo que a temperatura média de Santarém hoje seja de 32 graus C`. Quem permitiu tudo isso? a empreiteira?, a prefeitura?, a Caixa Econômica?, o Ministério das Cidades? O governo federal? Ou todos juntos?
Então vem outro absurdo coroando esse desprezo pelo dinheiro público e os pobres. Desconhecendo a orientação evangélica que já dizia – “Casa construída sobre areia, vem a chuva,  os temporais e ela cai arrasada...” Assim aconteceu com o projeto Minha Casa minha Miséria em Santarém: vieram as chuvas, os temporais e o projeto caiu, as valas partiram as ruas e tudo parou. Desde há mais de seis meses a vergonha está exposta aos viajantes e aos moradores da cidade. Tudo indica que o projeto faliu porque foi construído sobre terreno arenoso. Mesmo que um dia venha a ser concluído, quem aceitará morar ali? Nem os mais pobres vão aceitar o risco de perderem seus quase nada com novos temporais.

Até o momento a sociedade não sabe nada das consequências do desastre, que já era desastre desde a concepção do projeto em tais dimensões. Ninguém diz nada, não se sabe se alguém será cobrado responsabilidade. Quem deveria cobrar? O poder público municipal? A Caixa Econômica, que financiou com dinheiro público? O Ministério das Cidades? O Tribunal de Contas da União? A justiça federal? Ou a sociedade santarena, que fica com esse vergonhoso cartão postal? Quanto recurso já foi gasto com as obras? Quem pagará os prejuízos? Estas questões todas carecem de respostas, ao menos aos que se preocupam com a coisa pública. Será que a gerência da Caixa será incriminada também? Afinal foi ela que liberou o recurso para as obrinhas.
Enquanto isso, o Movimento de Trabalhadores em luta por moradia, o MTLM, vem tentando ocupar uma área improdutiva, bem próxima da área do Minha Casa minha Miséria. Vários momentos em que a ociosa área de 200 por 2.500 metros é ocupada pelos membros do MTLM chega o tático da polícia militar acompanhado de um representante do que se diz dono da área, chega sem mandato de reintegração de posse e expulsa os ocupantes derrubando os barracos. Um delegado já chegou a registrar a líder do movimento legalizado como chefe de quadrilha. Nunca um documento legítimo de propriedade foi apresentado, mas a o tático obedece ao advogado do que se diz dono.                      
Por que dois pesos e duas medidas, uma sempre contra o povo e outra favorável às elites urbanas? Para os organizados sem teto chega logo o tático da polícia, já para os crimes cometidos no caso do projeto minha casa minha miséria, inacabado, desastrado ninguém toma providência. Certamente porque  as autoridades locais, federais e da justiça não fizeram opção pelos pobres. A opção do governo federal é o crescimento econômico a todo custo e para os pobres projetos inconsequentes como este analisado. Mesmo sendo o recurso usado de modo irresponsável na construção de 3.000 casas em terreno inadequado, nem o Ministério das  Cidades, nem o Tribunal de Contas da União dá sinal de preocupação. Os  milhares de sem teto não sabem quando e se um dia vão ocupar as casinhas de cachorro, mas os sócios do MTLM não querem aquilo nem de graça. Um absurdo escandaloso que ninguém parece se importar.

Edilberto Sena
Coordenador da Comissão diocesana de Justiça e Paz.

O padre tem toda razão se considerarmos o local escolhido e o tamanho do imóvel, realmente não dá pra aceitar um investimento altíssimo pelo governo federal que só beneficiou os donos do terreno.

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