segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

SERRA PELADA E A NOVA CORRIDA DO OURO.

Falta de recursos ameaça retomada da extração de ouro em Serra Pelada.

 

A mineradora canadense, Colossus, responsável pelo projeto de retomada da produção de ouro na histórica região de Serra Pelada, no Pará, está sem dinheiro para continuar as obras.
Há dois meses, seus executivos tentam levantar junto a investidores US$ 70 milhões. São recursos extras necessários para que a companhia realize um rebaixamento do lençol freático e um bombeamento adicional de água na mina subterrânea, segundo disse ao Valor Rosana Entler, diretora de comunicação e de relações institucionais da Colossus. O projeto já consumiu US$ 350 milhões.
Em setembro, Claudio Mancuso, diretor presidente da Colossus Minerals, disse à reportagem, durante uma visita ao projeto, que a produção de ouro começaria entre o fim de 2013 e o início de 2014. A previsão teve de ser revista e a empresa informa agora que não tem como definir uma nova data.
“Em 14 de novembro de 2013, a empresa divulgou aos seus investidores que atrasos provocados pela quantidade de água no solo resultou em novo adiamento no início da produção, o que consequentemente gerou uma necessidade de recursos financeiros adicionais para conclusão da fase de instalação do projeto”, explicou Rosana.
A empresa decidiu, segundo Rosana, rever suas estratégias e paralisar temporariamente o avanço do túnel, “focando em esforços e reduzir as operações somente para manutenção da infraestrutura já existente”.
As obras do túnel, que percorrem mais de 1,3 km de extensão a uma profundidade que supera os 150 metros, começaram em dezembro de 2010 e desde o início o solo úmido e poroso da região representou um grande desafio para a mineradora. As paredes e o teto das vias subterrâneas abertas por perfuratrizes precisam ser concretadas para não desabarem.
“O tipo de rocha dessa região tem uma fragilidade estrutural elevada e alta permeabilidade. Mas isso não é uma novidade nem um problema insuperável para tecnologia que a Colossus tem”, diz o geólogo e consultor em mineração Luciano Borges.
Em julho do ano passado, a Colossus havia reportado problemas no sistema de bombeamento de água e que isso a obrigava a fazer novos aportes. Em novembro, a equipe de engenheiros e técnicos em Serra Pelada – que reúne brasileiros e estrangeiros – diagnosticou que para seguir adiante com a perfuração do túnel seria preciso uma intervenção maior para rebaixar o lençol freático.
“Durante as últimas oito semanas executivos da empresa participaram de inúmeras rodadas de negociação na tentativa de levantar recursos financeiros. Apesar de todos os esforços, até o momento não há definição de novos aportes de capital financeiro, apenas propostas ainda não concretizadas”, disse a diretora de Comunicação, por e-mail.
Os US$ 350 milhões aportados no negócio até agora foram levantados no mercado de capitais do Canadá, equities, dívidas, entre outros meios, conforme contou Mancuso em setembro.
A falta de recursos levou a empresa a interromper não só avanço da escavação do túnel da mina, mas também um trabalho de coleta de material mineralizado – onde está o ouro – que permitirá definir o tamanho da reserva.
Quando a reportagem esteve em Serra Pelada, Mancuso afirmou que naquele momento não era possível falar na quantidade de ouro no subsolo do projeto. Isso porque as amostras que coletadas mostravam grande variação de teores entre um ponto e outro. E que por ser canadense, a Colossus precisava fazer mais perfurações para atender a uma regra do país, a Normativa 43-101, antes de divulgar o tamanho da reserva.
“Ainda seriam necessárias uma série de perfurações a partir do subsolo, o que exige grande investimento financeiro”, disse Rosana. “Devido ao quadro financeiro atual, os trabalhos de perfurações no projeto Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral (SPCDM) foram paralisados.”
A Colossus tem 75% do empreendimento e a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), os demais 25%. A cooperativa reúne garimpeiros que trabalharam no gigantesco garimpo de ouro que floresceu nos anos 80 e foi fechado nos anos 90. A cooperativa tem tido muitas disputas internas e a relação com a empresa tem sido conturbada. Promotores públicos do Pará acompanham a situação.
A Colossus foi criada em 2006 em Toronto. Os acionistas são, na maioria, fundos de pensão e de investimento do Canadá e dos EUA. Um dos sócios fundadores é o brasileiro Augusto Kishida, que atuou na Vale na época do garimpo.

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